Márcio Maio - TV Press
Interpretar uma mãe de dez filhos homens foi, à primeira vista, inusitado para Vanessa Gerbelli. Mas a intérprete da preconceituosa Zeres de “A História de Ester” logo arrumou um jeito de converter essa característica a seu favor. Aos 36 anos, a atriz interpreta uma feiticeira que vive aproximadamente em 400 a.C. e, para inveja de todas as outras mulheres, além de dar uma contribuição considerável ao exército de seu rei Assuero, de Marcos Pitombo, ainda se mantém jovem. “Naquela época, ter essa quantidade de filhos era muito prestígio. Na minha cabeça, construí uma mulher que realmente tem poderes, já que conseguiu esse feito e ainda manter uma cara de menina”, argumenta.
Na minissérie, Zeres trama a morte da jovem Ana, papel de Letícia Colin, quando percebe que seu filho Aridai, de Paulo Nigro, está apaixonado pela menina. Além disso, ela tenta ajudar no complô que planeja a morte de Assuero, para que, assim, seu marido se torne o imperador. Para convencer na pele de uma vilã, Vanessa sempre prefere tentar entender as motivações de suas personagens. No caso de Zeres, a tarefa fica mais fácil, já que a atriz consegue entender os pontos de vista da feiticeira. Isso, é claro, tomando como base a cultura da época em que a trama se passa. E o que não significa que concorde com isso. “Era uma questão ideológica, de valores mesmo. Naquele período, matar era algo muito simples, quase uma lei da vida”, explica. “É claro que ela vai ser vista como uma vilã pelo público, mas eu não encaro dessa forma”, completa.
Fora do ar desde 2008, quando encarnou a mocinha Alice na novela “Amor e Intrigas”, de Gisele Joras, Vanessa não hesita em dizer que “A História de Ester” foi seu trabalho feito com mais cuidado na televisão. “Já tinha participado de workshops quando fiz O Cravo e a Rosa, na Globo, mas nada perto do que vi aqui”, elogia. E, ao contrário do que se supõe pela origem da trama, não foi na Bíblia que a atriz encontrou sua maior inspiração para o papel. “Li alguns romances que se passam mais ou menos na mesma época que o de Ester. Pesquisei também em livros históricos. Assisti ao longa americano Esther, mas confesso que prefiro ler quando me preparo para algum personagem”, descreve.
Ao contrário do que acontece nas novelas, “A História de Ester” foi toda gravada antes de ir ao ar. Mas isso não foi um problema para Vanessa. Disposta a se empenhar para fazer bonito na tela, a atriz sempre aproveitava o fim das cenas para assistir a revisão feita pelos diretores. Com isso, pôde se ver no vídeo e, quando preciso, se policiar para convencer no romance épico. “Queria ver a luz, os diálogos, tudo. Às vezes, ia à sala de edição e perguntava se tal sequência já tinha chegado para que eu pudesse assistir”, entrega, evitando assim qualquer susto que pudesse ter posteriormente, quando se visse na tevê.
Contratada da Record até 2011, Vanessa não esconde a satisfação com o tratamento que recebe da emissora. Isso porque em quatro anos, participou apenas de duas novelas, podendo descansar entre um trabalho e outro. “Acho que eles pensam em me poupar para me aproveitarem nos trabalhos em que eu possa fazer a diferença, ter um personagem marcante. É bom para eles e para mim também”, opina. Mas garante que, ao contrário de alguns colegas de profissão, jamais recusou um trabalho depois de assinar o contrato longo. “Sou uma funcionária e estou à disposição. É claro que, se em algum momento achar que um chamado não é tão interessante, vou tentar conversar. Mas sei que eles contam comigo e honro meus compromissos”, pondera, mesclando a formalidade com sorrisos contidos, mas simpáticos.
Espaço conquistado
A carreira de Vanessa Gerbelli na tevê começou marcada por papéis que, inicialmente, não eram tão expressivos nas histórias. Mas, no decorrer dos capítulos, todos se destacaram. Desde “O Cravo e a Rosa”, de Walcyr Carrasco, em 2000, quando interpretou a inesquecível Lindinha, uma aprendiz de vilã. “Foi um dos trabalhos que mais gostei de fazer”, elogia. Dois anos depois, foi escalada para encarnar uma empregada em “Desejos de Mulher”. Mas não demorou para que Gongon se transformasse em fisioterapeuta e, posteriormente, empresária de sucesso. “Tive vários papéis pequenos que cresceram com o tempo. Isso é, muitas vezes, mais estimulante do que interpretar uma protagonista”, atesta.
Mas o sabor do sucesso veio para valer em 2003, quando se viu envolvida numa das cenas mais polêmicas da teledramaturgia da última década. Em “Mulheres Apaixonadas”, estava certa de que participaria de apenas 30 capítulos da trama de Manoel Carlos quando recebeu a notícia de que sua personagem, a batalhadora Fernanda, seria vítima de uma bala perdida durante um tiroteio no Leblon, bairro nobre da Zona Sul carioca. “O assunto gerou tanta polêmica que até hoje lembram. Às vezes, me deparo com pessoas me chamando de dona Fernanda em lojas e outros lugares”, diverte-se ela, que emendou o trabalho com as novelas “Cabocla” e “Da Cor do Pecado”.
O contrato com a Record foi assinado em 2005, para viver a esquizofrênica Elza em “Prova de Amor”. Foi sua entrada na emissora que mudou a rotina de Vanessa. De uma atriz que precisava cavar seu espaço nas produções, ela passou a experimentar as glórias de estrela em uma emissora com poucos nomes conhecidos e com formação teatral. Tanto que já assumiu o posto de protagonista quando encarnou a mocinha Alice de “Amor e Intrigas”. E hoje, sem qualquer discurso egocêntrico, Vanessa sabe muito bem o que quer de seu futuro. “O que mais desejo é poder viver do meu trabalho e continuar ganhando papéis que me instiguem e que mostrem minhas capacidades”, discursa.
Fonte: Jornal Cruzeiro do Sul
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